Some
digressions asking (screaming) for a huge
title
Cada
pessoa é perseguida por um único assunto
a vida toda, eu acredito. E por se tratar de um único, esse
mesmo assunto se vela de quem o persegue, se mantém mudo
e reforça sua obscuridade à cada pergunta feita. Por melhores que
elas (as perguntas) sejam feitas, mesmo que se colham bons indícios
ou respostas temporárias, o « quase lá » ainda não é
« lá ». De fato o « quase lá » é uma
trégua da palavra emprestada, da arbitrariedade de toda tradução.
Talvez
esse assunto tenha uma imunologia própria, independente de mim e dos
meus recursos, mantendo-se intangível às minhas investidas.
–
À
cada conversa comprometida com essa busca, à cada desenho, em cada
tradução parece haver um rebatimento que gera um desvio. É como se
houvesse um rio que corresse muito forte, e cada tentativa de
penetrá-lo fossemos arremessados para fora, ou que cada tentativa de
barragem fosse destruída e desse choque nascesse um novo afluente.
Esses afluentes sim nos seriam acessíveis, teriam uma corrente mais
branda, porém seguiriam um sentido refratário em relação ao
primeiro rio.
Penso
sobre esses afluentes como tentativas de construção de
sentido diante de algo que não se apresenta em uma só visada. É
por causa desse fluxo maior, e central, desse contingente ainda
amorfo e intempestivo que se dão vazão à outros leitos. Essa vazão
é uma necessidade do curso que corre, mas o curso que corre também
é uma necessidade da vazão.
Pois
tal como os rios secundários, as digressões partidas de um assunto
principal seguem regras
próprias e habitam
outro tempo. Cada
uma delas é uma aposta em um momento e no caminhar de uma conversa,
e assim seguem comprometidas consigo, buscando tirar de si algo
deixado em suspenso.
No
entanto essas divergências todas têm sua origem em comum, são
nascimentos
diversos de uma
mesma fonte, e que minguam ao se distanciarem da fonte mesma.
–
De
todo modo, os trabalhos que apresento aqui se estruturam à partir
desse fracasso de capturar o tal assunto principal. Ora se
aproximam dele, ora repetem trajetórias, retraçam módulos,
emprestam gestos análogos (estou andando em círculos?), se cruzam e
seguem até onde podem.
Em
um momento de otimismo me permito dizer que com a mostra desses
excursos-fracassos se ergue um espectro da coisa
(assunto).
Tal como um conjunto de paratextos subtraídos do texto em si. Um
negativo, um equivalente, isto é se nos permitirmos por alguns
instantes estarmos o oposto de concentrados.
Pedro
Campanha
Berlim,
setembro de 2013