segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

 São Paulo é uma cidade saturada e engessada. Viver nela de maneira plena parece algo impossível.
Ou melhor, só há uma maneira de viver em São Paulo, quebrando esse gesso e reorganizar essa saturação. É quebrar esse gesso por dentro, usar o membro lesado recoberto por esse gesso e tensionar de dentro pra fora, mesmo que isso piore a lesão, mesmo que piore a dor.
Antes um membro fragilizado e flexível do que paralisado resignado a uma dor menor.
A dor é um sinal de vida num corpo capaz de reação e reflexo.
Saturado é encontro com o limite, com a impossibilidade, com o desgaste de um meio pelo uso. Um tipo de uso só.
L.E.R. Lesão por Esforço Repetitivo.
É o cansaço pela fadiga.
Ainda não é possível “des-saturar” São Paulo. Não se pode salvar um cadáver. Mas podemos prevenir esse tipo de morte, podemos estudá-la de perto, apresentá-la em sua crueza.
A “bazuca de RES trabalha com essa saturação, com dejetos e rejeitos da cidade, com a postura suicída da cidade de São Paulo de manutenção do consumo inconsequente e insustentável.
No entanto a “bazuca” não é um reuso desses materiais no sentido da reciclagem, ela não deseja voltar a ser consumida e descartada. Seu circuito esta em outra esféra agora. Sagrada, preservada, acalantada.
Mais do que isso, ela é um instrumento de guerra, um manual de guerrilha. Se souber lê-la, inferir algo dela. Esse instrumento apresenta seu modo de construção, sua fatura explícita.
Nisso reside o o maior poder desse trabalho: A exposição de uma postura construtiva que desestabiliza a lógica suicída de consumo.



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