sexta-feira, 9 de março de 2012


 4.E se?

O primeiro momento é sempre a sensação de não
pertencimento, de exclusão, de estar falando com paredes,
de que o movimento natural é o de ser expelido. E as
vezes de querer ser expelido, de negar a possibilidade de
inserção, enxergar corrupção nela, negar a sua
existência, não crer nela de fato. Carregar a solidão com
a melancolia das crianças.
A sensação em si é a sombra.

O momento logo seguinte é escapar do cativeiro do
sensível, me tornar bruto.
Abandonar tudo, mergulhar no abismo, ir sem mapa, ir com
medo e ir mesmo assim. Não dar ouvidos as paredes.
Travar tratos cruéis com os outros, tê-los um pouco como
inimigos. TODOS. Esse campo de batalha aos poucos se
torna um sofá, uma mesa de de bar, uma caminhada no
centro, a sala de um outro que me prepara um café
enquanto continuamos o duelo. Os adversários me convidam
para seus aniversários. Eu vou.

Estou contido, pertenço. Mas as brigas se tornam cada vez
mais raras, mas as que sobram são boas, são clandestinas,
não há divulgação, não se vendem ingressos. Sou eu e o
outro. Estamos sempre com um nível altíssimo de
endorfina. Ele me chuta a cabeça contra uma mureta, eu
quebro o mindinho dele. É incrível.
Mas hoje em dia as brigas não são bem vistas aos olhos de
quem evita combates, então elas ficam mais raras. Nesses
raros momentos clandestinos, nesse pacto firmado eu sou
parte de algo.

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